A falsa dicotomia: soluções estruturais (universalização)
versus soluções imediatas (focais)
Uma das
grandes confusões semeadas conscientemente pelas direções
reformistas é dicotomizar, criar falsas contradições, entre
soluções universalizantes e soluções pontuais, falsas
contradições entre “hoje” e “amanhã” para camuflar o
conteúdo de classe das diferentes reformas. Na literatura
revolucionária este assunto foi ampla e profundamente enfrentado no
início do século passado e ficou sintetizada a posição
revolucionária em textos como O Estado e a Revolução (Lênin,
1918) e Reforma ou Revolução (Rosa Luxemburg, 1900).
As
classes exploradas e oprimidas no capitalismo construíram várias
formas de luta, desde soluções pontuais até às mais universais. A
solução mais geral que o proletariado construiu é a revolução
socialista rumo a uma sociedade sem classes. Ao contrário da
propaganda reformista, na verdade a revolução socialista NÃO
implica em deixar de fazer reformas, IMPLICA em articular as reformas
com o fortalecimento do proletariado contra o capital, rumo à
emancipação política do primeiro. É fundamental então indagar
sobre o conteúdo das REFORMAS, pois há reformas e reformas. Assim
como o Estado tem um conteúdo de classe, as reformas também.
A classe
capitalista, madura em conservar seu domínio, articula
sistematicamente reformas que, conforme a máxima “oferece anéis
para preservar os dedos”, procura neutralizar a luta
revolucionária. Ocorre que o reformismo não distingue as reformas,
suas direções fazem isso de forma consciente, porém muitos
desavisados são enganados por esta sutileza. Na prática, os
coletivos vão “intuindo” sobre esta incapacidade do reformismo
em orientar uma estratégia revolucionária. Esta “intuição”
revolucionária, ocorre de muitas formas, uma dela é a negação da
práticas e/ou da organização do reformismo. Só com um grau mais
elevado de consciência revolucionária é que se tem clareza sobre
as implicações estratégicas do reformismo. Dado o seu potencial
desmobilizador, é fundamental enfrentá-lo, tanto nos atos quanto
nas palavras.
Para a
Universidade brasileira, o capital tem um projeto de reformas que
procura transformá-la de “fordista” em “toyotista”, ou seja,
uma reforma burguesa para adequá-la às necessidades de 4 grupos
(pelo menos):
- Capitalistas
da educação privada (ProUni);
- Capitalistas
de outros setores, como o industrial (ReUni);
- Banco
Mundial (formulador burguês internacional para o setor educacional);
- Burocracias
sindicais e outros agrupamentos reformistas integrados ao Estado
burguês.
Este
bloco conservador e gestor do Estado burguês no Brasil, incorpora,
portanto, além das frações dominantes da burguesia, o reformismo
"neo desenvolvimentista", a "pequena burguesia
política" (ou social-democracia retardatária), que tem o PT
como um de seus principais expoentes. A orientação estratégica
deste partido se diz “socialista”, mas não ultrapassa os limites
do capitalismo e é a mais adequada forma política para gerir o
capitalismo na atual conjuntura, exatamente pelo seu conteúdo
reformista que confunde e desmobiliza a luta por reformas que
fortaleçam o proletariado e classes apoio.
A
estratégia que orienta este campo político, chamada “Democrática
e Popular”, segundo a qual “proletariado é que deve realizar as
'tarefas em atraso' da 'revolução burguesa no Brasil'” não tem
nenhuma contradição fundamental com o projeto de reformas do
capital, pois as “tarefas em atraso” são uma gelatina desligada
da necessidade de fortalecimento estratégico do projeto socialista.
As “tarefas em atraso” que tentam “enquadrar” o diverso
desenvolvimento do capitalismo numa mitológica “revolução
burguesa clássica” (francesa) são o verniz popular do projeto
burguês.
A
confusão criada pelo reformismo é eficiente para capturar as
reformas e amputá-las de seu potencial transformador, comprimindo as
demandas concretas das classes subordinadas aos limites da ordem
capitalista.
O
reformismo perde fôlego exatamente quando apresenta sua incapacidade
para resolver problemas e começa a ser empurrado, tensionado, pela
base. Isso aparece inicialmente como “incompetência da direção”
e mais tarde se revela numa profunda limitação estratégica.
Como
apenas uma parte do movimento reformista possui consciência de si,
consciência da própria limitação, muitos militantes ilusidos
entram em crise, dado o constrangimento gerado pela contradição
entre o discurso e a prática reformista. Por exemplo, quando uma
categoria deflagra uma greve e o reformismo precisa atuar na
desmobilização sem assumir que é contra greve.
Para a
Universidade brasileira o reformismo tenta legitimar o projeto do
Banco Mundial (do capital) “argumentando” que ocorreram “avanços”
(reformas) e camuflando o resultado geral do processo: concessões
mínimas em troca da desmobilização, mantendo as reformas nos
limites da ordem.
Direções
experimentadas e militantes ingênuos tentam desqualificar a posição
revolucionária, os primeiros por interesse e os demais por
ignorância, “justificando” que os reformas são mudanças dentro
da ordem e portanto não há reforma revolucionária, mas apenas
“reformas”. Como resultado lógico (não real) temos que "todo
avanço é defensável", eis o engodo reformista.
Uma
maneira de demonstrar claramente as diferentes reformas é comparar a
posição reformista sobre a Universidade e o posição do movimento
que mantém as bandeiras históricas das categorias:
O
reformismo: “já foi pior”, “nunca antes na história deste
país”, “estamos avançando” etc.;
Contraposição
de esquerda: qualificar e articular reformas pontuais com soluções
universalizantes.
Quando
vencidos no debate político, os militantes ingênuos iludidos pelo
reformismo, retrucam com uma pergunta maravilhosa: “então, o que
fazer?”.
- Exigir e lutar por solução reais para os problemas enfrentados pelas
classes subordinadas até o ponto onde o capitalismo tem seus limites
expostos, revela-se então seu conteúdo de classe, sua incapacidade
de resolver os problema fundamentais da humanidade. Esta exposição
atenderá a vários objetivos que o reformismo é incapaz de atender:
Tal solução é pedagógica, educa sobre a realidade atual e a
necessidade das mudanças (eleva a consciência de classe); Fortalece
a organização das classes subordinadas, cria formas novas e
germinais do futuro poder, fortalece as já existente e adequadas e
ajuda a superar formas inadequadas;
Possibilita
as reformas, pois o reformismo é incapaz de alcançar grandes
avanços, pois não ameaça o status quo.
A
revolução começa no capitalismo e só se completa com a superação
dele! Para isso é necessário, estudar, organizar e lutar! Sem
ilusões reformistas!
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Para uma leitura mais aprofundada sobre as estratégia das organizações no Brasil: