terça-feira, 29 de maio de 2012

O conteúdo de classe das diversas reformas e as ilusões governistas

Latuff. "Prioridades do Governo"
"esse remédio jamais vai curar
esse remédio eu conheço, é aspirina
isso só faz com que a cabeça descanse em paz
enquanto a confusão contamina"
(Acústicos & Valvulados)


A falsa dicotomia: soluções estruturais (universalização) versus soluções imediatas (focais)

Uma das grandes confusões semeadas conscientemente pelas direções reformistas é dicotomizar, criar falsas contradições, entre soluções universalizantes e soluções pontuais, falsas contradições entre “hoje” e “amanhã” para camuflar o conteúdo de classe das diferentes reformas. Na literatura revolucionária este assunto foi ampla e profundamente enfrentado no início do século passado e ficou sintetizada a posição revolucionária em textos como O Estado e a Revolução (Lênin, 1918) e Reforma ou Revolução (Rosa Luxemburg, 1900).

As classes exploradas e oprimidas no capitalismo construíram várias formas de luta, desde soluções pontuais até às mais universais. A solução mais geral que o proletariado construiu é a revolução socialista rumo a uma sociedade sem classes. Ao contrário da propaganda reformista, na verdade a revolução socialista NÃO implica em deixar de fazer reformas, IMPLICA em articular as reformas com o fortalecimento do proletariado contra o capital, rumo à emancipação política do primeiro. É fundamental então indagar sobre o conteúdo das REFORMAS, pois há reformas e reformas. Assim como o Estado tem um conteúdo de classe, as reformas também.

A classe capitalista, madura em conservar seu domínio, articula sistematicamente reformas que, conforme a máxima “oferece anéis para preservar os dedos”, procura neutralizar a luta revolucionária. Ocorre que o reformismo não distingue as reformas, suas direções fazem isso de forma consciente, porém muitos desavisados são enganados por esta sutileza. Na prática, os coletivos vão “intuindo” sobre esta incapacidade do reformismo em orientar uma estratégia revolucionária. Esta “intuição” revolucionária, ocorre de muitas formas, uma dela é a negação da práticas e/ou da organização do reformismo. Só com um grau mais elevado de consciência revolucionária é que se tem clareza sobre as implicações estratégicas do reformismo. Dado o seu potencial desmobilizador, é fundamental enfrentá-lo, tanto nos atos quanto nas palavras.

Para a Universidade brasileira, o capital tem um projeto de reformas que procura transformá-la de “fordista” em “toyotista”, ou seja, uma reforma burguesa para adequá-la às necessidades de 4 grupos (pelo menos):

- Capitalistas da educação privada (ProUni);

- Capitalistas de outros setores, como o industrial (ReUni);

- Banco Mundial (formulador burguês internacional para o setor educacional);

- Burocracias sindicais e outros agrupamentos reformistas integrados ao Estado burguês.

Este bloco conservador e gestor do Estado burguês no Brasil, incorpora, portanto, além das frações dominantes da burguesia, o reformismo "neo desenvolvimentista", a "pequena burguesia política" (ou social-democracia retardatária), que tem o PT como um de seus principais expoentes. A orientação estratégica deste partido se diz “socialista”, mas não ultrapassa os limites do capitalismo e é a mais adequada forma política para gerir o capitalismo na atual conjuntura, exatamente pelo seu conteúdo reformista que confunde e desmobiliza a luta por reformas que fortaleçam o proletariado e classes apoio.

A estratégia que orienta este campo político, chamada “Democrática e Popular”, segundo a qual “proletariado é que deve realizar as 'tarefas em atraso' da 'revolução burguesa no Brasil'” não tem nenhuma contradição fundamental com o projeto de reformas do capital, pois as “tarefas em atraso” são uma gelatina desligada da necessidade de fortalecimento estratégico do projeto socialista. As “tarefas em atraso” que tentam “enquadrar” o diverso desenvolvimento do capitalismo numa mitológica “revolução burguesa clássica” (francesa) são o verniz popular do projeto burguês.

A confusão criada pelo reformismo é eficiente para capturar as reformas e amputá-las de seu potencial transformador, comprimindo as demandas concretas das classes subordinadas aos limites da ordem capitalista.

O reformismo perde fôlego exatamente quando apresenta sua incapacidade para resolver problemas e começa a ser empurrado, tensionado, pela base. Isso aparece inicialmente como “incompetência da direção” e mais tarde se revela numa profunda limitação estratégica.

Como apenas uma parte do movimento reformista possui consciência de si, consciência da própria limitação, muitos militantes ilusidos entram em crise, dado o constrangimento gerado pela contradição entre o discurso e a prática reformista. Por exemplo, quando uma categoria deflagra uma greve e o reformismo precisa atuar na desmobilização sem assumir que é contra greve.

Para a Universidade brasileira o reformismo tenta legitimar o projeto do Banco Mundial (do capital) “argumentando” que ocorreram “avanços” (reformas) e camuflando o resultado geral do processo: concessões mínimas em troca da desmobilização, mantendo as reformas nos limites da ordem.

Direções experimentadas e militantes ingênuos tentam desqualificar a posição revolucionária, os primeiros por interesse e os demais por ignorância, “justificando” que os reformas são mudanças dentro da ordem e portanto não há reforma revolucionária, mas apenas “reformas”. Como resultado lógico (não real) temos que "todo avanço é defensável", eis o engodo reformista.

Uma maneira de demonstrar claramente as diferentes reformas é comparar a posição reformista sobre a Universidade e o posição do movimento que mantém as bandeiras históricas das categorias:

O reformismo: “já foi pior”, “nunca antes na história deste país”, “estamos avançando” etc.;

Contraposição de esquerda: qualificar e articular reformas pontuais com soluções universalizantes.

Quando vencidos no debate político, os militantes ingênuos iludidos pelo reformismo, retrucam com uma pergunta maravilhosa: “então, o que fazer?”.

A resposta é:

- Exigir e lutar por solução reais para os problemas enfrentados pelas classes subordinadas até o ponto onde o capitalismo tem seus limites expostos, revela-se então seu conteúdo de classe, sua incapacidade de resolver os problema fundamentais da humanidade. Esta exposição atenderá a vários objetivos que o reformismo é incapaz de atender:

Tal solução é pedagógica, educa sobre a realidade atual e a necessidade das mudanças (eleva a consciência de classe); Fortalece a organização das classes subordinadas, cria formas novas e germinais do futuro poder, fortalece as já existente e adequadas e ajuda a superar formas inadequadas;

Possibilita as reformas, pois o reformismo é incapaz de alcançar grandes avanços, pois não ameaça o status quo.

A revolução começa no capitalismo e só se completa com a superação dele! Para isso é necessário, estudar, organizar e lutar! Sem ilusões reformistas!

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Para uma leitura mais aprofundada sobre as estratégia das organizações no Brasil:

Um comentário:

  1. Ler:
    Senso comum e conservadorismo: o PT e a desconstrução da consciência
    http://blogdaboitempo.com.br/2013/04/25/senso-comum-e-conservadorismo-o-pt-e-a-desconstrucao-da-consciencia/

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