quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Morre um aliado inseparável de Fidel na Revolução Cubana

Vítima de ataque cardíaco na última sexta-feira (11), Juan Almeida Bosque foi o primeiro negro cubano que se colocou ao lado de Fidel Castro quando este decidiu fazer a revolução

Vítima de ataque cardíaco na última sexta-feira (11), Juan Almeida Bosque foi o primeiro negro cubano que se colocou ao lado de Fidel Castro quando este decidiu fazer a revolução

Rui Ferreira

Operamundi

O vice-presidente cubano, Juan Almeida Bosque, foi o primeiro negro cubano que se colocou ao lado de Fidel Castro quando este decidiu fazer a revolução. Acompanhou-o no assalto ao Quartel Moncada em 1953, considerado o início do levante. Fracassada a tentativa, ambos foram presos e julgados em Santiago de Cuba. Seguiram-se dois anos de prisão, o exílio no México e depois, em 1956, o regresso à ilha rumo à Serra Maestra, a bordo do iate Granma.


Almeida Bosque


Fidel sempre o considerou um amigo, entre outras razões porque Almeida foi o único homem que, no meio de um combate, teve a coragem de enfrentar Ernesto “Che” Guevara, então ainda um simples médico da força guerrilheira. Cercados por uma poderosa força militar do ditador Fulgêncio Batista, que os surpreendeu logo ao desembarcarem, Che teve um momento de debilidade e sugeriu uma retirada.


“Che, aqui ninguém se rende. ‘Cojones’!”, gritou Almeida no meio da escuridão da noite. Durante muitos anos, a frase foi atribuída ao Comandante Camilo Cienfuegos, mas nos anos 1980, o agora presidente Raúl Castro confirmou, num discurso, que era de Almeida. E acrescentou que foi a reação “correta de um revolucionário”.


Sua morte foi um choque para a maioria dos cubanos, que o viram pela última vez há dois meses, durante sessões do parlamento cubano, e ele parecia bem de saúde. Segundo um comunicado oficial, foi vítima de ataque cardíaco na última sexta-feira (11). Foi enterrado ontem.


Almeida conheceu Fidel no início da década de 1950, através de um amigo militante do Partido Ortodoxo. “O Fidel não teve que me convencer muito para me colocar a seu lado. Sou negro, toda a minha família sofreu com o racismo antes de revolução e eu percebi logo que era o homem indicado para salvar nosso país”, contou o carpinteiro Almeida, numa entrevista concedida à revista Cuba Internacional há uns 30 anos.


Desde então, não se separaram. Almeida permaneceu ao lado de Fidel em todas as primeiras batalhas. Na Serra Maestra, em cujo cemitério foi enterrado, recebeu a patente de comandante e foi nomeado chefe de uma das frentes de combate.


Governante ideal

Dizem historiadores cubanos que Fidel sempre pensou que Almeida era o homem ideal para governar o oriente do país, a zona mais rebelde de Cuba e habitada majoritariamente por negros. Por isso, logo em 1959, quando o poder revolucionário se consolidou, o ex-presidente o enviou para Santiago de Cuba, onde permaneceu por 15 anos à frente do governo civil da região.


Foi durante sua passagem pelo cargo que as tropas norte-americanas estacionada na Base Naval de Guantánamo atacaram a tiros vários soldados fronteiriços cubanos, matando pelo menos quatro. Apesar de Fidel ter dirigido a manobra de defesa, foi Almeida o encarregado de mobilizar as tropas.


De volta a Havana em 1975, Almeida é encarregado de organizar o primeiro congresso governamental do Partido Comunista, de onde sai membro do birô político e com a patente honorífica de “comandante da Revolução”, atribuída apenas ao atual ministro de Comunicações e Informática, Ramiro Valdés, e ao vice-presidente Guillermo García, o primeiro camponês da Serra Maestra, que aderiu à revolução de Fidel.


Compositor premiado

Mas Almeida também se distinguiu noutro terreno. É considerado um importante compositor de boleros e canções populares cubanas. Escreveu mais de 300 e obteve vários prêmios em festivais de música.


A sua canção mais importante é, possivelmente, La Lupe, dedicada à santa mexicana, que escreveu durante a travessia do Granma entre o México e a Serra Maestra. “Nenhum de nós sabia se ia sobreviver ao desembarque. Sempre pensei que devia restar uma última homenagem ao México por nos ajudar e deixar alguma coisa escrita”, explicou Almeida na entrevista à Cuba Internacional.


“Sempre escutei com prazer as suas canções, em especial aquela em que, com grande emoção, se despedia de seus sonos com um apelo a vencer ou morrer pela pátria”, escreveu hoje, numa de suas reflexões, Fidel Castro, em referência a La Lupe.


Almeida 15 meses depois de Vilma Espín, que foi presidente da Federação de Mulheres Cubanas, esposa do presidente Raúl Castro e a mulher de mais alta hierarquia da revolução.


Dentro do círculo de poder da primeira geração revolucionária, além de Fidel (83 anos) e Raúl (78), permanecem vivos o primeiro vice-presidente, José Ramon Machado Ventura (78), os comandante Ramiro Valdés (77) e Guillermo Garcia (81), assim como o ministro da Defesa, general Julio Casas Regueiro (73), e o ministro do Interior, Abelardo Colomé Ibarra (70).


Há dois meses, ao anunciar a realização do sexto congresso do Partido Comunista no próximo ano, o presidente cubano admitiu que será o último da geração que fundou a revolução - o último foi realizado em 1997. Por isso, deverá delinear o rumo político do processo revolucionário e da renovação da sociedade, ainda baseados no modelo soviético.

Fonte: Brasil de Fato

Polícia reprime protesto de dois mil professores no Rio

Apesar da violência, governo estadual recua e Alerj aprova um projeto mais favorável aos professores

Apesar da violência, governo estadual recua e Alerj aprova um projeto mais favorável aos professores
Raquel Junia,

Do Rio de Janeiro

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Uma passeata de cerca de duas mil pessoas saiu da Igreja da Candelária, passou pela Avenida Rio Branco e chegou até a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) na última terça-feira, dia 8 de setembro. Os profissionais da Educação, que contaram com o apoio de um grande número de estudantes, protestavam contra o PL 2474, que seria votado pelos deputados no mesmo dia.


Ao chegarem a Alerj, os manifestantes foram recebidos pela tropa de choque da PM, que deu ordem de prisão a um professor, soltou bombas de gás lacrimogêneo, disparou sprays de pimenta e balas de borracha. Onze pessoas ficaram feridas, entre elas dez professores e um repórter fotográfico. Apesar da truculência da polícia, os profissionais da educação permaneceram no local e quando a repressão arrefeceu, retomaram seus lugares nas escadarias da Alerj.

Diante da pressão dos professores, o projeto de lei sofreu modificações e foi aprovado com algumas reivindicações da categoria como a manutenção da gratificação de 12% por tempo de serviço e formação, uma gratificação aos animadores culturais e a aproximação do piso salarial dos funcionários ao salário mínimo, com a incorporação de 150 reais da gratificação conhecida como “Nova Escola”.

Entretanto, outras reivindicações não foram atendidas, como a inclusão dos profissionais de 40h de trabalho no plano de carreira e também a incorporação da gratificação “Nova Escola” ao salário dos professores imediatamente, já que a lei aprovada define que a “Nova Escola” só será incluída totalmente no salário do professor daqui a seis anos.

“Cabral, a greve continua, a culpa é sua”, gritavam os professores para o governador do estado do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), após a aprovação da lei. Em frente à Alerj foi realizada uma assembléia que decidiu pela manutenção da greve por tempo indeterminado. Na próxima quinta-feira, dia 10, haverá nova mobilização, dessa vez, na frente do Palácio Guanabara, sede do governo do estado. O protesto terá como pauta principal os pontos não incluídos pela lei, além do abono salarial dos dias de trabalho nos quais os professores estão em greve. Haverá também uma nova assembléia na próxima quinta-feira.


Alerj irá apurar atuação da polícia

A Alerj informou que estabelecerá uma comissão de sindicância para apurar se houve excessos por parte da Polícia Militar. O Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro (Sepe) foi convidado para participar da comissão. De acordo com professores e estudantes presentes, a polícia deu voz de prisão a um dos profissionais que tentava negociar a liberação de uma das vias da rua para acomodação dos manifestantes. Outros profissionais e estudantes se aproximaram do professor detido para tentar soltá-lo e a polícia reagiu puxando uma pistola e em seguida começaram as bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta disparados contra os manifestantes.

Alguns parlamentares saíram da Alerj em defesa dos professores e aos poucos os policiais foram se afastando. As ambulâncias chegaram para socorrer os feridos; e os manifestantes que se dispersaram por causa das bombas de gás foram retomando à escadaria da Assembléia. Os professores continuaram reunidos até por volta de 20h, quando terminou a assembléia que decidiu pela manutenção da greve.

À convite de seus professores, Silvana Faria, Michelle Santos e Pablo Barbosa. estudantes do 2° ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Professor Alfredo Baltasar da Silveira, em Piabetá, no município de Magé, região metropolitana do Rio, foram acompanhar a manifestação e ficaram assustados com a repressão da polícia. “Se não fosse pelo professor, essas pessoas também não seriam policiais, então, eles não deveriam fazer isso”, disse Silvana.

Todo mundo precisa de professor

A estudante Silvana Faria considera que é uma obrigação apoiar os professores nos protestos por melhores condições de trabalho. “Acho que é um dever deles é uma obrigação nossa também de lutar por eles”, afirmou. A professora de português Maria Rosa Gonçalves incentivou os alunos a participarem da manifestação. “Eu disse para eles nos apoiarem agora porque corremos o risco de daqui há sete, oito anos os filhos deles não terem escola. É importante eles participarem também porque essas experiências vão implantando o espírito de luta neles, e só conseguimos os nossos direitos com muita luta”, disse.

A aluna do 2° ano de formação de professores do Instituto de Educação Rangel Pestana, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, segurava uma das primeiras faixas do protesto e também trazia um nariz de palhaço. “Todo mundo precisa de professor. Essa deveria ser a profissão mais bem paga do mundo. Até o governador Sérgio Cabral precisou de professor”, declarou rapidamente, já que a passeata precisava andar e o apitaço dos outros colegas já soava alto.

(Fotos: Jackson Anastacio)

Fonte: Brasil de Fato

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Battisti e a Justiça Brasileira

Na aparência, será o julgamento de Battisti, na verdade Gilmar Mendes quer mostrar que o STF tem mais poder do que o presidente Lula e Tarso Genro.


Nesta quarta-feira, 9.09, o Supremo Tribunal Federal julga duas coisas – se o italiano Cesare Battisti deve ou não ser extraditado para a Itália e se o ministro da Justiça, Tarso Genro, tem alguma utilidade dentro do aparelho judiciário brasileiro.

A primeira não é de sua competência porque a questão já foi decidida há meses pelo ministério da Justiça, ao qual até agora compete conceder ou não refúgio a requerentes. A segunda revela um câncer jurídico, um superdimensionamento do STF que desafia um ministro da República. O câncer está avançado porque o presidente do STF, ignorando uma decisão de pleno direito do ministro da Justiça, decidiu sponte sua, por sua própria vontade, manter preso um homem que deveria ter sido libertado em janeiro.

Não havendo instância superior ao STF, a decisão unilateral de reduzir o poder de um ministro (e justamente o da Justiça), se impôs e assumiu feições de ato legal sem o ser, embora desse ato ilegal tenha decorrido um efeito, antes mesmo de ser arguido quanto à sua validade – Cesare Battisti, beneficiado com a concessão do refúgio e, portanto, com direito à liberdade ao ser publicada essa decisão, permaneceu preso por vontade do presidente do STF, pelo tempo necessário a que pudesse medir suas forças jurídicas com o ministro Tarso Genro.

Essa disputa de validade e tamanho de poder, uma espécie de final de campeonato para saber quem manda mais Tarso Genro ou Gilmar Mendes, nada teria de imoral se envolvesse apenas pareceres, jurisprudência e arrazoados, nas salas e corredores velados e kafkanianos da justiça brasileira.

Porém, não é o caso, envolve a liberdade de um homem e sua vida futura. E assim, que o STF se reúna depois de quase nove meses de liberdade roubados a um homem, constitui um ato de desrespeito aos direitos humanos, por tortura psicológica e cerceamento da liberdade a um homem ao qual cabia de direito e de justiça o fim de sua prisão, desde o minuto seguinte à decisão do ministro da Justiça Tarso Genro.

Que interesses e razões levaram o STF a invalidar e duvidar da competência do ministro da Justiça ? Só o desejo de, a partir de agora, ficar acima do Ministério da Justiça em matéria de refúgio e extradição, ou o desejo de satisfazer os interesses políticos do governo italiano, numa pretensa retribuição aos títulos de nacionalidade italiana distribuídos a quase um milhão de netos brasileiros de emigrantes italianos, inclusive para a esposa do presidente ?

As intervenções do governo italiano, de seus parlamentares, de sua imprensa controlada contra a decisão do ministro Tarso Genro, inclusive o contrato de caros advogados, mostram claramente haver um enorme interesse político do governo Berlusconi, rodeado de velhos e novos fascistas, de aplicar uma severa punição num revolucionário dos anos agitados da Itália.

Se o STF optar pela extradição de Cesare Battisti, alem da bofetada no ministro Tarso Genro, será passada em cartório a submissão da nossa côrte máxima, não às razões jurídicas mas aos interesses políticos de uma classe política estrangeira que nada tem a ver com a do Brasil.

É importante a liberdade de Cesare Battisti, cuja vida de fugas e esconderijos é maior que o castigo desejado pelos Javerts que o perseguem de país em país como um terrorista, sem querer ver nele um homem devidamente integrado na sociedade, escritor de sucesso e sem qualquer ameaça para a sociedade.

Mas é importante se destacar que uma extradição de Battisti, sem consumar uma crise institucional, mostrará mais um vez o desfuncionamento ou mau funcionamento do aparelho judiciário brasileiro, suas rachaduras e seu descrédito diante da população.

Ao que parece, Gilmar Mendes quer tornar a decisão do STF definitiva e impedir mesmo que o presidente Lula possa usar do seu poder de clemência e conceder o refúgio. Ou seja, depois de passar por cima de Tarso Genro, o presidente do STF quer ficar acima de Lula e proibí-lo de interferir no caso Battisti.
Rui Martins

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Fernando Lugo: Um ano de ambiguidades

Acordo com o Brasil dá mais fôlego a Fernando Lugo, que chega ao primeiro ano na presidência com contradições e dificuldades em administrar um Estado controlado há décadas pelo Partido Colorado

Após fechar um acordo com o Brasil sobre a energia da binacional Itaipu, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, fez um pronunciamento solene em frente ao Palácio de Governo. Era 25 de julho. Com menos de um ano de negociações, o país chegava a um acordo esperado há três décadas. Mas a referência ao passado mirava o futuro: próximo de completar os primeiros doze meses na presidência, Lugo recuperava fôlego, calava críticas e abria uma nova etapa para o seu até então fragilizado governo.

“Evidentemente que o acordo tranquilizou muito o ambiente. Gerou um ambiente mais propício para o diálogo”, admite Enrique Salim Buzarquis, presidente da Câmara dos Deputados pelo Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA).

Lugo, ex-bispo convertido em candidato a presidente por consenso de diferentes movimentos sociais e partidos de esquerda, aliou-se ao tradicional PLRA, instituição com mais de cem anos de existência, e assumiu a presidência do Paraguai em 15 de agosto de 2008 com o desafio de promover “el cambio” num Estado controlado há 60 anos pelo Partido Colorado. A tarefa não vem sendo fácil.

Lugo faz um governo ambíguo. Promove avanços nas políticas sociais e no combate à corrupção, além de uma postura séria nas relações internacionais, o que levou não só ao acordo histórico com o Brasil mas a uma nova imagem do país no exterior.

“Na luta contra a corrupção, ganhamos um respeito internacional, e em um ano de governo não há nenhum indício de casos de corrupção na presidência e nos ministérios. A segunda conquista é o acordo que conseguimos com Itaipu, que foi histórico”, resumiu o presidente, em entrevista a rádios comunitárias no Equador, durante a última reunião da Unasul (União das Nações Sul-Americanas).

Sem rumo

Por outro lado, Lugo cede às pressões do agronegócio, vacila em temas estratégicos como a reforma agrária e, para melhorar a atribulada relação com o Congresso, acena aos partidos conservadores.

Assim, é forte no Paraguai a ideia de que o presidente não tem uma linha política clara de atuação. “Existem problemas complexos que impedem que ele tenha uma linha de ação mais concreta. O que estamos vendo é uma situação em que, ideologicamente, há sinais à esquerda, sem deixar de dar uma mão à direita”, afirma o sociólogo José Nicolás Morinigo, ex-senador pelo Partido País Solidário, que na última eleição tentou voltar ao Congresso pelo Partido do Movimento ao Socialismo (P-MAS).

Ideia que é compartilhada por setores de oposição a Lugo. Héctor Cristaldo, presidente da União de Grêmios de Produtores (UGP), que reúne todas as entidades do agronegócio no país, diz que o governo não tem rumo. “Não há nenhum avanço. Há mais dúvidas que certezas. Um ministro diz uma coisa, no dia seguinte outro ministro lhe contradiz. Não há rumo. É muito difícil trabalhar assim”, afirma.

Se de fato o governo não tem rumo, os ruralistas paraguaios colaboraram para isso. Ameaçando com a realização de um “tratoraço”, que por fim não aconteceu, a UGP obrigou Lugo a derrubar seu decreto que regulava a utilização de agrotóxicos. A medida, uma das mais emblemáticas do primeiro ano de gestão, gerou descontentamentos entre os camponeses e mostrou que as dificuldades são muitas e que, ao que parece, Lugo não tem muita disposição para enfrentá-las.

“Quem exerce o poder real são as oligarquias, e eles estão trabalhando para manter seus privilégios”, diz o dirigente camponês Belarmino Balbuena. “Estamos preocupados porque houve muitas promessas, mas não sabemos se Lugo está mais próximo da direita ou da esquerda. O que se nota até hoje é que a direita está rodeando o governo”, avalia.

Como prega sua formação católica, Lugo parece não ter mesmo vocação para o conflito. Recentemente, lançou a ideia de realizar uma consulta popular e recuou após a reação negativa do Congresso e da imprensa, deixando para que os setores de esquerda levassem adiante a proposta. Derrotada no Parlamento a aprovação do Imposto de Renda, que não existe no Paraguai, o presidente iniciou uma aproximação que incluiu diálogos com o Partido Colorado e com o UNACE, partido do general Lino Oviedo.

Realidade complexa

Por outro lado, essa postura pode ser a mais adequada diante da complexa realidade política paraguaia, com marcas profundas das seis décadas de domínio do Partido Colorado, tradição recente de golpes e uma polaridade expressa na emergência de um suposto grupo guerrilheiro chamado Exército do Povo Paraguai (EPP), cuja existência, mesmo duvidosa, tumultua o ambiente político no país.

No episódio do reconhecimento de seu filho – as outras duas denúncias ainda não se confirmaram –, Lugo teve sua credibilidade abalada e foi ameaçado inclusive de impeachment. O próprio vice-presidente, Federico Franco, do PLRA, contribui para a instabilidade do governo. Recentemente, diante de rumores de que o presidente estaria doente, Franco respondeu simplesmente que estava pronto para assumir.

Transformando o “antichavismo” no “anticomunismo” do século 21, a direita paraguaia acossa o governo Lugo. A política econômica é conservadora e a reforma agrária será deliberadamente lenta. “Nenhum país na América Latina fez uma reforma agrária que tenha levado um ano, cinco anos. Nosso plano de reforma agrária termina em 2023”, disse o próprio presidente, no Equador.

Sem condições ou mesmo disposição para grandes rupturas, Lugo prioriza o fortalecimento de políticas sociais, para combater a pobreza no país, mas, ao mesmo tempo, não consegue controlar a Polícia Nacional, que segue reprimindo manifestações camponesas, como nos últimos governos. Transformar o Estado paraguaio não é uma tarefa a ser concluída em um ano de governo.

Por isso, o presidente parece apostar em transformações possíveis nas instituições. Aos poucos, vai testando a possibilidade de uma reforma na Constituição, algo que ainda está no horizonte distante.

Novo fôlego

Passada a turbulência dos primeiros meses de governo, e fortalecido com o acordo obtido com o Brasil – politicamente importante, mas que também representará um acréscimo considerável no orçamento do país –, Fernando Lugo tem um pouco mais de fôlego para levar adiante essas mudanças.

No meio desse complicado jogo político, a frágil esquerda paraguaia começa um processo de unidade para respaldar transformações mais profundas. Não está em discussão se o governo está em disputa ou não. Ambíguo e conciliador, assim é o governo Lugo.

“Esse é o Lugo, não é mais nem menos do que é. E ele somente vai ter posições políticas mais fortes quando o movimento popular unificado exija com maior força e conduza este processo. Se não, não há disputa”, afirma Rocío Casco, presidente do P-MAS.

Para ela, é preciso compreender as contradições do processo paraguaio e aproveitar o momento para se organizar: “Não vai ser um governo socialista, mas, compreendendo a história paraguaia, podemos ter alguns avanços. Não que as pessoas vão confiar nas instituições burguesas, mas que olhem o socialismo como uma opção real de mudança. Se nós conseguirmos avançar nesses objetivos, podemos dizer muito obrigado, presidente Lugo”.

Fonte: Brasil de Fato

Governo golpista inicia campanha eleitoral

Sessenta e quatro dias depois do golpe de Estado que culminou na deposição do presidente Manuel Zelaya, governo golpista lança a campanha do Partido Liberal para as eleições de novembro.

Sessenta e quatro dias depois do golpe de Estado que culminou na deposição do presidente de Honduras, Manuel Zelaya, o líder do governo golpista, Roberto Micheletti, lança a campanha do Partido Liberal para as eleições previstas para 27 de novembro.

Na quinta-feira passada, Micheletti se disse disposto a renunciar “de forma imediata ao cargo e apoiar a volta de Manuel Zelaya”, se este aceitasse deixar a presidência, numa contraproposta ao acordo San José, apresentado pelo presidente da Costa Rica, Oscar Árias, porém respeitando como cidadão comum e não no âmbito político.

O Partido Liberal, que foi também de Manuel Zelaya e hoje apoia o governo de Micheletti e o golpe de Estado, lançou seu candidato na campanha eleitoral: Elvis Santos, que declarou que é necessário buscar uma solução imediata e que apoia “com contundência o acordo de San José”.

Santos, que foi vice-presidente no governo de Zelaya e renunciou em maio para lançar sua candidatura própria, não quis comentar o ponto central da proposta de Árias, que é o retorno imediato de Zelaya à presidência hondurenha.

O candidato liberal, segundo uma ala do PL que não está disposta a reconhecer a legalidade do processo eleitoral enquanto não se restabelecer a ordem constitucional, é acusado de ter feito parte da organização política que depôs o presidente Zelaya.

“Ainda que haja enormes falhas políticas, a situação de Honduras é muito complicada em termos jurídicos”, afirma o analista político mexicano Rubén Aguilar, professor de Ciências Políticas da Universidade Íbero-Americana. Ele diz também que acredita que o governo golpista dá uma opção de saída para a situação. “Como muitas vezes acontece, um governo autoritário, através de um processo eleitoral democrático, dá a possibilidade de [o país] seguir adiante”.

Opinião diferente tem o analista político da Universidade Nacional Autônoma de Honduras, que pediu para não ser identificado para evitar retaliações: “A única saída possível é o cumprimento do acordo de San José. Nenhuma eleição tem valor se não se realiza em um processo democrático”.

Em documento divulgado em 28 de agosto, a Frente Nacional de Resistência Contra o Golpe de Estado afirma que “as eleições gerais sem restituição da ordem constitucional seria a legalização da violência militar contra o Estado e, portanto, inaceitável”. Os membros da organização condenam a “militarização da sociedade e o chamado processo eleitoral dos golpistas, que com sua presença armada introduzem um elemento adicional de violência política partidária e que acentuam as condições de exclusão, obscuridade e repressão em prejuízo da população”.

Esta semana Manuel Zelaya está em Washington esperando que a administração do presidente norte-americano, Barack Obama, declare oficialmente como “golpe militar” a sua expulsão do país.

Fonte: Brasil de Fato

Sem terra é assassinado durante despejo

Um integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foi assassinado na manhã desta sexta-feira (21) no município de São Gabriel, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Elton Brum, de 44 anos, foi morto com um tiro nas costas de arma calibre 12 durante o despejo dos 700 sem terra que ocupavam a Fazenda Southall desde o dia 12 de agosto.

O agricultor foi levado ao Hospital de São Gabriel pelos próprios policiais, que informavam que Brum fora vítima de um mal súbito. A versão, porém, foi desmentida pelo próprio hospital, que confirmou que a morte foi causada por disparo de arma de fogo.

De acordo com a Brigada Militar, 14 pessoas ficaram feridas durante a ação. No entanto, o deputado estadual Dionilso Marcon (PT-RS), que acompanhou a identificação do corpo no hospital, garante que o número de feridos com estilhaços, espadas e mordidas de cachorros é maior do que o divulgado pela polícia.

A ocupação da fazenda iniciou durante a Jornada Nacional pela Reforma Agrária e reivindicava a aplicação dos recursos para saúde, educação e infraestrutura nos assentamentos da região e desapropriação do restante da Fazenda Southall, que teve parte desapropriada em 2008. Eles também pediam a liberação imediata, na Justiça, das fazendas Antoniazzi e 33, em São Gabriel, para o assentamento das famílias acampadas no estado.

Na semana passada, também em São Gabriel, 250 integrantes do MST que ocuparam a Prefeitura da cidade foram despejados de forma truculenta e torturados pela Brigada Militar. Segundo os sem terra, os policiais montaram um “corredor polonês” para que os manifestantes levassem socos e chutes dos policiais. Integrantes do MST acusam a Brigada Militar, ainda, de ter orientado o hospital do município a não atender os 50 sem terras que ficaram feridos e que receberam apenas cuidados rápidos.


Fonte: Brasil de Fato