quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Morre um aliado inseparável de Fidel na Revolução Cubana

Vítima de ataque cardíaco na última sexta-feira (11), Juan Almeida Bosque foi o primeiro negro cubano que se colocou ao lado de Fidel Castro quando este decidiu fazer a revolução

Vítima de ataque cardíaco na última sexta-feira (11), Juan Almeida Bosque foi o primeiro negro cubano que se colocou ao lado de Fidel Castro quando este decidiu fazer a revolução

Rui Ferreira

Operamundi

O vice-presidente cubano, Juan Almeida Bosque, foi o primeiro negro cubano que se colocou ao lado de Fidel Castro quando este decidiu fazer a revolução. Acompanhou-o no assalto ao Quartel Moncada em 1953, considerado o início do levante. Fracassada a tentativa, ambos foram presos e julgados em Santiago de Cuba. Seguiram-se dois anos de prisão, o exílio no México e depois, em 1956, o regresso à ilha rumo à Serra Maestra, a bordo do iate Granma.


Almeida Bosque


Fidel sempre o considerou um amigo, entre outras razões porque Almeida foi o único homem que, no meio de um combate, teve a coragem de enfrentar Ernesto “Che” Guevara, então ainda um simples médico da força guerrilheira. Cercados por uma poderosa força militar do ditador Fulgêncio Batista, que os surpreendeu logo ao desembarcarem, Che teve um momento de debilidade e sugeriu uma retirada.


“Che, aqui ninguém se rende. ‘Cojones’!”, gritou Almeida no meio da escuridão da noite. Durante muitos anos, a frase foi atribuída ao Comandante Camilo Cienfuegos, mas nos anos 1980, o agora presidente Raúl Castro confirmou, num discurso, que era de Almeida. E acrescentou que foi a reação “correta de um revolucionário”.


Sua morte foi um choque para a maioria dos cubanos, que o viram pela última vez há dois meses, durante sessões do parlamento cubano, e ele parecia bem de saúde. Segundo um comunicado oficial, foi vítima de ataque cardíaco na última sexta-feira (11). Foi enterrado ontem.


Almeida conheceu Fidel no início da década de 1950, através de um amigo militante do Partido Ortodoxo. “O Fidel não teve que me convencer muito para me colocar a seu lado. Sou negro, toda a minha família sofreu com o racismo antes de revolução e eu percebi logo que era o homem indicado para salvar nosso país”, contou o carpinteiro Almeida, numa entrevista concedida à revista Cuba Internacional há uns 30 anos.


Desde então, não se separaram. Almeida permaneceu ao lado de Fidel em todas as primeiras batalhas. Na Serra Maestra, em cujo cemitério foi enterrado, recebeu a patente de comandante e foi nomeado chefe de uma das frentes de combate.


Governante ideal

Dizem historiadores cubanos que Fidel sempre pensou que Almeida era o homem ideal para governar o oriente do país, a zona mais rebelde de Cuba e habitada majoritariamente por negros. Por isso, logo em 1959, quando o poder revolucionário se consolidou, o ex-presidente o enviou para Santiago de Cuba, onde permaneceu por 15 anos à frente do governo civil da região.


Foi durante sua passagem pelo cargo que as tropas norte-americanas estacionada na Base Naval de Guantánamo atacaram a tiros vários soldados fronteiriços cubanos, matando pelo menos quatro. Apesar de Fidel ter dirigido a manobra de defesa, foi Almeida o encarregado de mobilizar as tropas.


De volta a Havana em 1975, Almeida é encarregado de organizar o primeiro congresso governamental do Partido Comunista, de onde sai membro do birô político e com a patente honorífica de “comandante da Revolução”, atribuída apenas ao atual ministro de Comunicações e Informática, Ramiro Valdés, e ao vice-presidente Guillermo García, o primeiro camponês da Serra Maestra, que aderiu à revolução de Fidel.


Compositor premiado

Mas Almeida também se distinguiu noutro terreno. É considerado um importante compositor de boleros e canções populares cubanas. Escreveu mais de 300 e obteve vários prêmios em festivais de música.


A sua canção mais importante é, possivelmente, La Lupe, dedicada à santa mexicana, que escreveu durante a travessia do Granma entre o México e a Serra Maestra. “Nenhum de nós sabia se ia sobreviver ao desembarque. Sempre pensei que devia restar uma última homenagem ao México por nos ajudar e deixar alguma coisa escrita”, explicou Almeida na entrevista à Cuba Internacional.


“Sempre escutei com prazer as suas canções, em especial aquela em que, com grande emoção, se despedia de seus sonos com um apelo a vencer ou morrer pela pátria”, escreveu hoje, numa de suas reflexões, Fidel Castro, em referência a La Lupe.


Almeida 15 meses depois de Vilma Espín, que foi presidente da Federação de Mulheres Cubanas, esposa do presidente Raúl Castro e a mulher de mais alta hierarquia da revolução.


Dentro do círculo de poder da primeira geração revolucionária, além de Fidel (83 anos) e Raúl (78), permanecem vivos o primeiro vice-presidente, José Ramon Machado Ventura (78), os comandante Ramiro Valdés (77) e Guillermo Garcia (81), assim como o ministro da Defesa, general Julio Casas Regueiro (73), e o ministro do Interior, Abelardo Colomé Ibarra (70).


Há dois meses, ao anunciar a realização do sexto congresso do Partido Comunista no próximo ano, o presidente cubano admitiu que será o último da geração que fundou a revolução - o último foi realizado em 1997. Por isso, deverá delinear o rumo político do processo revolucionário e da renovação da sociedade, ainda baseados no modelo soviético.

Fonte: Brasil de Fato

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