terça-feira, 29 de março de 2011

A INVENÇÃO REVISIONISTA

André Luan Nunes Macedo

Havana, 30 de janeiro de 2011,

Muitos amigos no Brasil, influenciados pelos meios de comunicação dominantes, diziam que a Revolução Cubana havia produzido uma “grande lavagem cerebral” na população por meio de um “culto” doentio à personalidade dos mártires da Sierra Maestra. Che Guevara, Cienfuegos, Raul Castro e, principalmente, o comandante Fidel seriam grandes deuses naquela sociedade.
Sem dúvida, os guerrilheiros são tratados como grandes heróis libertadores da pátria e do socialismo em Cuba. Existem estátuas e monumentos em homenagem aqueles que já se foram, como Cienfuegos e Che. Os ainda vivos, no entanto, não são eternizados.
Procuramos por todas as partes algo que simbolizaria uma ideia de eterno na figura do Comandante Fidel. O máximo que encontramos foram cartazes com sua foto no contexto de celebração do Aniversário da Revolução. Não são encontradas camisas, bottons, moedas, etc. com sua imagem.
Ao contrário do que se imagina, Fidel Castro é reconhecido por sua grande inteligência e determinação. A população cultiva a dimensão, digamos, “iluminista”, do Comandante. Não há, portanto, nenhuma prova que represente-o como um “Deus” da Pátria. Ao contrário disso, Fidel é reconhecido pelo grande humanismo que carrega em suas ideias, sabendo também que cometeu diversos erros na condução do seu governo.
A “revisão” da tradição marxista-leninista na URSS serviu para reproduzir, no senso comum mundial, a ideia de culto à personalidade. Tal conceito tem sido utilizado para denegrir os líderes que lutaram por sua pátria e defenderam a luta antiimperialista, como fizeram com Stálin, Mão, Lênin, Fidel, Che, dentre outros.
Muitos documentos históricos apontam para este problema após o golpe militar do XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética em 1956, com os Relatórios Secretos de Kruchov, denunciado nas Cartas Chinesas do PCCh. Com a invenção do culto à personalidade, os assim chamados debochadamente pelos chineses de “revisionistas” retiraram todo seu apoio ao desenvolvimento do socialismo chinês, em nome de uma “coexistência pacífica” completamente divergente aos princípios de autodeterminação construídos pelo camarada Lênin. Assim, a “via parlamentar” seria o caminho final – e não um meio, uma trincheira para a luta política - na construção do socialismo nos demais países. Tal política ocasionou em um atrelamento a concepção de democracia imposta pelo imperialismo, causando um divisionismo sem precedentes no movimento comunista internacional : Mesmo o camarada Graciliano Ramos, em seu livro “Viagem”, ressalta a denúncia esdrúxula da imprensa mundial contra as lideranças soviéticas, denunciando a possibilidade de trata-los como “demônios”.
Por isso, não devemos jamais aceitar a crítica esquerdista das lideranças latino-americanas que reivindicam o socialismo. Analisar, por exemplo, Hugo Chavez como “populista” ou como um ser individualista e oportunista é a principal arma que necessita o imperialismo no momento histórico atual. Portanto, os comunistas devem ser contrários a ótica de representação liberal, não podendo fornecer armas discursivas para o imperialismo sob nenhuma hipótese.
Quem suporta hoje o paradigma do culto são as democracias liberais ao redor do mundo. A burguesia produz, no seio da sociedade civil, o espaço institucional daqueles subordinados pela indústria cultural, as “grandes celebridades”. O fetiche de ter algo que identifique com as celebridades é o motor da propaganda e da mercadologia. Nesse caso, tampouco importa a música que cantam, mas se forem mulheres ou homens situados em certo padrão de beleza física, já adquirem certo status quo.
Aqui em Cuba ninguém respeita ou admira Fidel Castro por sua barba ou por ser um homem alto. Ainda bem...

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