quarta-feira, 10 de junho de 2009

O DEBATE DA REFORMA AGRÁRIA

Antônio Paulo Gomes de Freitas

A questão agrária não é um tema que interessa somente àqueles que trabalham com a agropecuária. É um tema que interessa a toda a sociedade. O alimento em nossa mesa e a preservação das reservas de água são assuntos de interesse geral. A maioria dos alimentos que abastecem a nossa mesa é produzida pelos agricultores familiares e assentados da reforma agrária. Juntos, produzem 79% do leite, 90% das aves, 79% dos suínos, 60% do milho, sem falar nos hortifrutigranjeiro s, com algumas exceções.

Dias atrás, o sindicato rural de São Gabriel divulgou a realização do Fórum Permanente do Agronegócio. São Gabriel tem um PIB (Produto Interno Bruto) por habitante de R$ 8 mil, um dos mais baixos do Estado, e o latifúndio, com certeza, é o principal responsável por essa realidade, pois a maioria dos municípios da Metade Sul acompanha essa situação. Diferentemente da maioria dos municípios da região Norte. Em Pontão, por exemplo, local de muitos conflitos nos anos 80 para que os 10 mil hectares da antiga fazenda Annoni se transformassem em assentamento, o PIB por habitante é de R$ 21 mil e quase 50% da população é de assentamento. Para setores conservadores da sociedade, democracia é sinônimo somente de eleições diretas. Uma sociedade só pode ser democrática quando democratiza também a economia. O Brasil é um dos países com maior concentração de terra do mundo, pois cerca de 50% das terras agricultáveis pertencem a 2% dos proprietários, considerando propriedades acima de mil hectares. Portanto, pecuaristas familiares com menos de mil hectares fazem parte dos 98%, grupo de pequenos e médios produtores. Aqueles que são contra a reforma agrária preferem ver o bioma pampa descaracterizado pelas transnacionais com eucalipto do que vê-lo com assentados produzindo alimentos. A reforma agrária não é viável? O que dizer então da Aracruz Celulose, que teve parte comprada com recursos públicos este ano pelo Grupo Votorantim, com R$ 2,5 bilhões do BNDES. Essas empresas já adquiriram mais de 300 mil hectares de terra na Metade Sul para plantar eucalipto, que aprofundará ainda mais a falta de água nessa região, esterilizando o solo e provocando um desequilíbrio ecológico incalculável.
Desenvolvimento econômico requer desenvolvimento humano e reforma agrária. O Fórum Permanente do Agronegócio quer discutir desenvolvimento para quem? Para o conjunto da sociedade ou só para alguns?

*médico veterinário

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